domingo, 3 de maio de 2015

Tentando voltar a opinar (Parte 1)

Resolvi ressuscitar minha alma pensante, aquela que morreu porque pensava demais. Pensava, falava, mas não era ouvida... Ás vezes era ignorada... Ora mal compreendida. Talvez ela apenas pensasse... O pensamento sem ação é inerte... O pensamento traduzido em bonitas palavras são apenas palavras... “palavras apenas, palavras pequenas, palavras ao vento” já dizia aquela música lá.

Em tempos como o que vivemos, em que tantas opiniões recheadas de indiretas sarcásticas ou não, sutis ou nem tanto são expressas ao mesmo tempo, pensar ficou difícil... Confuso eu diria... Complicado talvez...

Não se assuste caso esteja sentindo que seu pensamento está morrendo aos poucos, é normal. Mas uma alerta: se você está sentindo os sintomas... Não espere! Tome providências! Não deixe que seu pensamento morra! Porque talvez ele não consiga renascer como o meu... Eu tive foi sorte! Nunca tive medo de discordar, de me manter em equilíbrio, de ficar em cima do muro, sobre o qual posso ver com clareza os dois lados do terreno. Mas ultimamente estava sentindo que meu discurso de tom conciliador não tinha muita credibilidade, daí fui perdendo aos poucos a vontade de falar. Mas de uns dias para cá o tédio ajudou bastante comecei a perceber que não importa o que as pessoas vão pensar, o importante é falar, é mostrar que "tá" atento ao que acontece, e que se manifestar sobre questões importantes é necessário seja você quem for. E eis que aqui está minha alma pensante querendo opinar "traveis".

Bom, vamos aos fatos! O que mais contribuiu para a morte da minha vontade de dar opinião foi essa fome insaciável por extremismo que as pessoas andam tendo... "Nunca antes na história desse país" os rótulos tiveram tanta importância.

O ministério da saúde do pensamento adverte:

Ao se manifestar, ou ao simplesmente usar uma rede social, CUIDADO!
  • Se você discordar de algo pode ser chamado de coxinha ou de comunista de m**da!
  • Se você não se manifestar nas redes sociais vai ser tachado de omisso ou até mesmo de cúmplice do opressor!
  • Se você nunca fala nada a respeito de política, dos assuntos cult e dos acontecimentos marcantes da sociedade que o cerca,  mas ás vezes reclama do preço da gasolina, você provavelmente é considerado um analfabeto político, que vota no candidato que tá indo melhor nas pesquisas ou naquele que a maquiavélica e manipuladora rede globo mandou você votar.
  • Se você não gostar do PT, se você for contra a legalização do aborto e da maconha, e for a favor da redução da maioridade penal, das citadas, uma ou todas: ou vão te chamar de evangélico fanático, de psdbista, de conservador, de direitista e de coxinha serviria de sinônimo para qualquer um dos rótulos acima.
  • Se você gostar do PT, for a favor do casamento gay, da legalização do aborto e da maconha e contra a redução da maioridade penal, certamente: ou você tá afim de instaurar uma ditadura gayzista, ou você está afim de adotar um bandido e de quebra fazer cafuné nele e levar pra passear, ou é um assassino frio e calculista de crianças inocentes!

IMPORTANTE!
  • Não se desespere, respire fundo, cheira a florzinha e sopra a velinha.
  • Pense muito, muito, mas muito mesmo antes de falar sobre política, ou assuntos polêmicos.
  • Pense muito, muito, mas muito mesmo antes de comentar algo contrário ao que seu amigo acabou de postar, pois as reações poderão ser semelhantes aos dos fanáticos por times de futebol.
  • Se nas últimas eleições você confundiu a comemoração do resultado com o resultado de uma final entre cruzeiro e atlético e ficou indignado sem entender nada, fique atento, seu pensamento pode não aguentar por muito tempo.  

Viu como temos razão de não querer mais falar? Não importa como você pense você sempre será criticado, excluído, tachado. E se você não for extremista a coisa só piora.


Mas vamos ao que interessa.

Na semana que passou fomos bombardeados nas redes sociais pela terrível notícia de que professores que se manifestavam nas ruas do Paraná foram massacrados por policiais que tentavam impedir o avanço dos grevistas. Inúmeras foram as fotos de professores baleados, ensanguentados, caídos no chão... Todos ficamos chocados! Entendo perfeitamente a euforia e o desejo de falar sobre o assunto, e entendo mais ainda os que ficaram boquiabertos sem saber o que dizer. Como futura professora encaro o fato com profunda abominação. Porque não disse isso antes? Estou no time dos boquiabertos.

Moramos em um país que tem como lema “Pátria educadora” e fico me perguntando sobre a reação que tiveram aqueles que viram de fora essa notícia. “A pátria educadora é aquela que atira bombas de gás e balas de borracha contra os professores? WTF?”. Nós brasileiros certamente estamos nos fazendo essa mesma pergunta...

Tá, mas o lema é do governo federal, do tão magnifico PT, a culpa do massacre é do governador que é do abominável PSDB. Na boa? Para mim o que menos importa é o partido ao qual o dito cujo pertence. O que me importa é: o tratamento que dão a grevistas e manifestantes, os políticos e a polícia. Tal tratamento geralmente ou é violento, ou de total indiferença. É óbvio que temos uma polícia despreparada, é obvio que temos um governo estou generalizando mesmo omisso que conta com um bom histórico de ignorar greves. Vou dizer isso pela centésima vez... Desde que me entendo por gente os professoras fazem greve. Vi isso acontecer no ensino fundamental, e hoje estou na universidade e isso ainda acontece. A greve dos professores, ou de qualquer trabalhador de uma escola ou universidade é a que menos afeta o poder público. Se uma escola está sem aula, boa parte dos alunos está comemorando e encarando tudo aquilo como uma boa oportunidade para dormir até mais tarde, ou para ficar em casa vendo desenho agora sem tv globinho tá mais complicado. Se a meninada for mais crescida e estiver no ensino médio certamente vai arrancar os cabelos porque afinal, no fim do ano tem Enem, o período de greve possivelmente vai prejudicar a apreensão dos conteúdos para prova. Agora, se a galerinha já estiver na universidade vai ficar p*ta de raiva porque vai demorar mais pra form... Não "peraí", eles tem a solução, vamos fazer 3 semestres em um ano! D:

Resumindo, quem é o maior prejudicado quando qualquer esfera do sistema de ensino entra em greve? Os alunos, é claro. Em um país no qual a educação pública já é precária por natureza em que uns dias, semanas ou meses sem aula vão afetar na organização das cidades, na economia do país, na sua panela, na limpeza pública? Se você pensou ‘nada’, está certo. É só você se lembrar do caos que foi a greve dos garis, dos transportes públicos, dos caminhoneiros. As pessoas estavam em meio ao lixo, elas não conseguiam chegar ao trabalho e a alface não conseguia chegar ao sacolão. Os governos e as pessoas estavam efetivamente sentindo os efeitos dessas greves o trem ficou feio. Aquilo sim é afetar, os jornais não falavam de outra coisa. Quando a greve é dos professores nem a mídia ajuda a pressionar, ela simplesmente mal toca no assunto.

Sabe como eu imagino uma reunião dos governantes quando estoura uma greve dos professores?

Engravatados, sentados em uma mesa redonda e dizendo:
- Vocês viram? Aqueles chatos outra vez...
- O que faremos?
- Vamos ignorar... Ver até onde eles aguentam ir. Quando tiver passando dos limites ameaçamos não pagar o salário e a colocar professores substitutos para trabalhar.
- Boa ideia, daí a gente oferece uma merreca, alegamos que é impossível pagar mais que aquilo, fechamos um acordo e eles param de encher o saco.
- Mas e se eles estiverem bravos, se forem mais ousados dessa vez, com carro de som falando mal do nosso governo, queimando sua imagem doutor... E se quiserem entrar na prefeitura, cobrando resposta?
- Fácil, a tropa de choque estará a postos para garantir que a situação não saia do controle...

Infelizmente é assim, se não se ignora, a polícia parte pra cima, e isso acontece em todo país, não é caso isolado do Paraná e não é porque o governo é do PSDB. O grande problema é que nossa população é vista com inferioridade por parte da polícia e de nossos governantes. Nós somos os baderneiros, os mal educados, já os prefeitos, governadores e presidentes, são respeitáveis seres intocáveis. O recente caso choca mais por ter sido contra professores, classe há muito tempo condicionada a baixos salários, a precárias condições de trabalho, e pra piorar é uma classe que não conseguiu nenhum respeito ou admiração pela nossa própria sociedade que tanto sai por aí dizendo que a educação não presta porque não se investe nela. O Professor não tem valor algum dentro de nossa sociedade, hoje todos estão indignados, mas quando eu digo que estou estudando para ser professora sabe o que eu escuto?

“Nossa você é louca?”
“Mudou de cidade para fazer licenciatura? Pensei que era medicina...”
“Passou na federaaaaaal uhul! Qual curso? ‘Letras’. xau você não merece falar nem comigo nem com meu anjoessa é velha :/
“Letras né, mas com esse curso você SÓ vai conseguir ser professora mesmo né”

Ninguém admira alguém que está estudando para ser professor, sinto isso na pele. Uma das únicas que me dá a maior força é a minha mãe, mas adivinhem? Ela também é professora, e vejo junto dela os desafios que ela enfrenta dentro das escolas em que trabalha, onde nem de perto o maior problema é o salário que ela recebe. As coisas que acontecem dentro de uma escola são inimagináveis... depreciativas... desanimadoras.

Mas sabe qual o lado bom disso tudo? Aposto que os professores que hoje estão dando suas aulas, aqueles que estão entrando em greve, esses que foram feridos e os vários colegas (acredite são vários mesmo) que junto comigo serão futuros professores, ainda acreditam que um dia não serão mais ignorados e finalmente terão o valor que merecem. Bons salários, apoio dentro da escola para cumprir seu papel, vale saúde para cuidar das dores nas costas, dos quadros de depressão e estrese, da voz que está quase perdendo... Utopia? Talvez? Adoro "Utopiar"!

ps: não me baseei em dados históricos, fui na base do achismo mesmo, e olha a cara de quem tá ligando (y). Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.